sábado, 2 de abril de 2011

Sarney, a biografia

Vida conturbada, escândalos políticos, depressão, nepotismo e inesperada presidência são traços marcantes da trajetória de José Sarney. Com o intuito de se explicar, o senador lançou, no dia 22 de março, a sua biografia. Sarney aponta erros do seu governo, dá a sua visão dos escândalos políticos, critica os seus sucessores e, muitas vezes, coloca-se como vítima.
A história conta que Sarney foi eleito o vice-presidente de Tancredo Neves e que este morreu antes da sua posse. Nas páginas do seu livro, o parlamentar declara que ficou inseguro para assumir o cargo. Relutava dizendo que o povo queria Tancredo Neves e que ele seria uma grande decepção. O pensamento pessimista era fruto da depressão que Sarney sofria desde 1982. “Era uma solidão que não passava, uma dor insidiosa na alma que me levava a pensar recorrentemente na morte e nas fontes da vida”.
Apesar da sua insegurança, em 1985, José Sarney assumiu a presidência do Brasil. Como ele mesmo afirma, foi um governo fraco, marcado por erros e fracassos. Uma de suas ações mais marcantes foi a inserção do Plano Cruzado. Em meio à grande instabilidade provocada pela inflação, o plano promoveu o congelamento geral dos preços por um ano e o aumento de salários toda vez que a inflação atingia os 20%. A princípio, essa medida garantiu o seu maior índice de popularidade. Porém, três meses após alcançar 80% de aceitação, começaram as manifestações de insatisfação. Para tentar sanar o problema, Sarney lançou o Plano Cruzado II, decretando o fim do congelamento e permitindo altos reajustes no preço da gasolina. Esta medida trouxe tantos malefícios que, em seu diário, Sarney declara: "Eu preferia ter cortado a minha mão a ter assinado aquilo".
Outros dois erros também são apontados: ter dado “calote” no FMI e ter confiado em Ivan Souza Mendes. Um ano depois de dizer que não pagaria a dívida externa que o Brasil devia ao FMI, Sarney reconheceu que a moratória foi um dos grandes erros do seu governo. Porém, assim como o primeiro, ele divide a culpa com os seus ex-auxiliares da equipe econômica: “Fiz porque acreditei neles”. A sua decepção com o general Ivan, chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações), é fortemente frisada em seu livro. Enquanto Sarney apontava o militar como o seu fiel escudeiro, Mendes fazia um dossiê acusando-o de ter um apartamento cativo no Hotel Glória e de pagar os estudos de seus filhos no exterior com o dinheiro público, além de acusá-lo de fraudar a sua suplência como deputado.
Apesar de todos estes problemas, Sarney continuou na carreira política. Hoje, assume o cargo de presidente do Senado, mesmo depois da forte crise que ocorreu em 2009, quando sofreu denúncias de criar 136 diretorias, receber indevidamente auxílio-moradia, nepotismo e, principalmente, por editar centenas de atos secretos, inclusive acobertando nomeações de parentes.
O livro lançado tenta explicar todos estes acontecimentos. O senador se defende das acusações e diz que muitas vezes não sabia do que estava ocorrendo e ainda coloca a culpa nos membros da equipe do seu governo. Sarney assume os erros cometidos como presidente, conta problemas de saúde, mas não explica as falcatruas das quais lhe acusaram. Então, mesmo depois da sua biografia autorizada, ainda faltam explicações. 

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